quarta-feira, 2 de maio de 2012

Quem alfabetiza quem?

Mafê

Era o primeiro dia de encontro do Grupal (? - rs).
Dizendo de minhas expectativas e daquilo que me mobiliza, contei dos desafios colocados por um trabalho que deseja considerar a potência da diversidade em sala de aula.
Tomo algumas falas das prôs companheiras de grupo para dizer das minhas questões.
E - em uma discussão que começa a entrar no tema da minha dissertação de mestrado - respondo ao pedido de Carla, Renata e Tânia: conto um pouco do meu trabalho como professora, com turminha em processo de alfabetização.
Já não lembro mais do que disse... lembro das questões em torno do que eu disse.... (Eu e as "questões"!)
O debate esquentou e começamos a dizer do quanto acreditávamos que todas as crianças poderiam aprender na escola ou não. A maior parte do grupo presente naquele dia tinha especialização em psicopedagogia e a discussão passou por alguns posicionamentos referentes ao atendimento em clínica... Individualizado.
Carla contou de sua experiência em clínica, do quanto passou a questionar atendimentos individualizados e de seus estudos tomando o grupo como fundamental para aprendizagem das crianças ditas "com dificuldades".
Contei da experiência  que estamos realizando na escola este ano: aproveitando a verba do programa do governo federal "Mais Educação" para privilegiar crianças que apresentam maior dificuldade na realização das atividades em sala de aula. Eu e Si temos uma estudante de Pedagogia, com bolsa, para nos acompanhar às quartas-feiras.
Carla questionou essa forma de intervenção: Não seria contraditório colocarmos as crianças separadamente, usufruindo da atenção de uma estranha em um trabalho que almeja potencializar a diversidade e dialogar com as crianças. Carla sugere que perguntemos às crianças se , para lidarem com seus maiores desafio, querem ajuda individualizada ou não. Não gostariam mais da presença da professora?
E sem ter tempo de entrar nesse novo debate/nova questão volto para casa com vontade de prosear mais com Carla e questionando os encaminhamentos tão defendidos por mim, perante as gestoras da escola inclusive... : Se podemos oferecer um atendimento mais próximo e individualizado para algumas crianças, por que não?
Na mesma semana converso com a estagiária e planejo o agrupamento de outra maneira... mais encorajada para ousar um modo de organização que conte com as escolhas das crianças entre mais de uma atividade. Faço um levantamento com a turma do que poderíamos fazer para "reativar" um trabalho com alfabeto já que algumas crianças ainda precisam memorizá-lo.
A turminha quase toda já não precisa mais de um trabalho em torno dos sons das letras e seus nomes, sequência da ordem alfabética e afins... Então propus o desafio de pensarmos em atividades que fossem desafiadoras para todos: como escrever textos colocando o alfabeto como "tema"? Como propiciar que os colegas que precisam digam a sequência do alfabeto todo os dias... ?
Algumas propostas surgiram.
No dia em que contamos com a ajuda da estagiária fizemos nossa primeira experiência com grupos organizados a partir de interesses e não necessariamente a partir daquilo que a prô diz que é necessário aprender.
Quem poderia imaginar que quase toda a turma quis ajudar a organizar um alfabeto temático (tema Corpo) na parede?
Para isso, organizaram sequência das letras, pesquisaram imagens , as classificaram e escreveram nomes das partes do corpo encontradas em revistas...
E o trabalho aconteceu muito bem!
Na saída... a estagiária já ia embora, quando a parei na porta da sala e perguntei o que tinha achado. Se pensava que valeria a pena investirmos nessa organização.
Para minha surpresa ela disse que sim, que tinha sido bacana e que viu um dos meninos que mais apresenta dificuldades ajudando outros dois!





Um comentário:

  1. É... Como disse o Marcemino uma vez: "Falar é fácil, difícil é lidar com as coisas na prática. Pra lidar com alteridade, com essa coisa do outro, tem que se reconhecer transitório..." E isso é algo que torna esse grupo diferenciado para mim: a real disposição às mudanças, porque senão ficamos no mesmo lugar confortável de sempre, que nos mostra só até onde a vista alcança...

    ResponderExcluir