sábado, 5 de maio de 2012

O que nos diferencia?

O que diferencia o trabalho de cada uma de nós? O que se torna único e singular? Ë como olhamos para cada criança e para cada solicitação que nos fazem? É como organizamos a aula e planejamos a rotina? São as escolhas que fazemos e as que deixamos de lado? É tudo isso e muito mais?

Ouço de pessoas não envolvidas com a educação do quanto temos privilégios em trabalhar tão pouco, apenas 6 horas diárias, e fico pensando como e onde nosso trrabalha começa a acontecer, começa a ser pensado, planejado e muitas vezes literalmente sonhado horas antes em casa, enquanto dirigimos, fazemos compras ou qualquer outra tarefa de nosso dia a dia, quando vemos um livro sobre dinossauros ou corpo humano a venda...

Quando as escolas municipais de Campinas começaram a pensar no trabalho com os ciclos, um dos maiores desafios surgidos – ao menos para mim – foi como dar conta de tantas necessidades de aprendizagem distintas em uma mesma sala. Não que essa não fosse uma preocupação anterior, mas com a nova tentativa de organização fomos levadas a pensar em agrupamentos por saberes, atividades distintas para cada um deles, preparação e organização de acontecimentos na aula que proporcionassem um real salto em seu aprendizado.

Cursos foram oferecidos, participamos de grupos de estudo sobre o ciclo, mas certos acontecimentos de uma aula estão além de qualquer situação que possamos prever ou planejar.

Na última quarta-feira – dia em que recebo em minha sala uma estagiária do Projeto Mais Educação das 7hs às 9hs –  como de costume a sala estava organizada para trabalharmos com 3 tarefas diferentes. Um grupo de 6 crianças que ainda precisam aprender os sons de todas as letras e relacioná-los a grafia das mesmas (este grupo é sempre atendido pela estagiária com apoio da Mafê das 7h50 às 8h40). Um segundo grupo de 8 crianças que já estão alfabetizadas, portanto leem  e escrevem bem e um terceiro grupo de 11 crianças que estão no meio do caminho entre o primeiro e o segundo grupo.

É claro que mesmo dentro destes 3 grupos distintos cada criança tem sua singularidade de necessidades, de experiências e de curiosidades.

Como estamos estudando dinossauros, o grupo de crianças alfabetizadas tinha como tarefa ler um texto informativo sobre o Estegossauro (dinossauro herbívoro) e produzir um cartaz com as informações mais relevantes do texto para apresentação ao restante da turma no final da aula.

Já havíamos coletivamente produzido dois outros cartazes sobre dinossauros herbívoros (apatossauro e triceratopo) nas semanas anteriores, eu estaria naquele momento dando apoio ao grupo de 11 crianças e pedi que começassem a tarefa lendo o texto informativo para identificar – segundo a opinião deles – quais informações eram mais importantes ou chamavam mais a atenção.

É incrível porque ainda me surpreendo com estas crianças... no momento que disse leiam o texto primeiro... todas, sem exceções dedicaram sua atenção a leitura do texto. Um diferencial muito marcante neste grupo é que não vejo crianças dizendo não quero, não vou fazer, não, não, não... geralmente aceitam as propostas e ainda as complementam com novas ideias para pesquisa e estudo.

Depois de alguns minutos, um dos meninos, L.W. veio até  mim e disse que precisava de ajuda para entender duas coisas do texto, primeiro o que era quadrúpede (palavra que ainda não havia surgido em nenhuma leitura anterior) e segundo, que ele achava muito estranho que todos os primeiros fosséis dos dinossauros estudados tinham sido encontrados nos EUA... estava indignado porque nunca achavam primeiro no Brasil e disse:

- Pro, a gente precisa pesquisar os dinossauros aqui do Brasil, será que nunca acharam nenhum aqui?

Já tinhamos um combinado anterior, uma lista de questões que escreveram em duplas no começo do ano sobre o que desejavam saber sobre os dinossauros, as quais organizamos em um cartaz, que está afixado na parede da sala e que vamos seguindo conforme as dúvidas são satisfeitas.


Diante de tamanho interesse, na semana seguinte começamos a pesquisar os dinossauros encontrados no Brasil, mas para mim foi um “sacada” do L.W. que jamais poderia prever, pensei que o texto os levaria por outros caminhos, como se defendiam de seus predadores, a estrutura do seu corpo com couraças, etc.
No final deste dia perguntei ao grupo como fariam a a apresentação do cartaz e L.W. foi o escolhido para falar para toda a turma, é lógico que não se esqueceu de dizer que precisávamos começar a pensar nos  “dinossauros brasileiros”...

Por Simone Franco

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