quinta-feira, 24 de maio de 2012

Por que a gente aprende a “desescrever” na escola?


Desencontros entre a escola e seus principais interlocutores -  os alunos
Renata Frauendorf

Em 2010 Ga, 6 anos, frequentava o primeiro ano ainda localizado no espaço da educação infantil de uma escola particular. Descobriu o mundo da escrita e da leitura e se encantou por ele. Um dia conversando comigo disse: “Mãe sabe eu adoro ler e escrever”. E de fato sua grande curtição era produzir textos longos o mais que pudesse. Este ano (2011) continua na mesma escola e iniciou o 2º ano do fundamental e esses dias trouxe como tarefa de casa uma folha em que deveria ligar a letra inicial a imagem. Com ar de descrença comentou: “Nossa isso parece lição para maternal”. O que apenas concordei evitando gerar maiores conflitos. Ga ficou quieta em seus pensamentos para em seguida me lançar uma bela questão após um segundo comentário.
“Sabe ano passado eu escrevia, lia e agora só corto palavras, ou ligo a letra ao desenho.....Mãe por que agente aprende a “desescrever” na escola? ....

domingo, 13 de maio de 2012

Encontro de 02 de maio de 2012.


Responsáveis pelo registro: Vanessa Ap. Ghidotti Celente e Simone Franco

Participantes: Renata, Anapersia, Tânia, Vanessa S., Márcia, Vanessa G. C., Mafê e Simone.

"Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que descobrisse o mar. Viajaram para o Sul. Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando. Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta imensidão do mar, e tanto seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza. E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai: Me ajuda a olhar!"              
A função da arte de Eduardo Galeano
(Vi este texto no blog de uma amiga e me apaixonei, acho que ilustra bem o que estamos fazendo juntos. Simone)


       Começamos lendo o registro do encontro passado para fazermos as devidas correções e postar no blog do grupo. Feito isso passamos as nossas reflexões.
         Conversamos sobre a inscrição para o congresso de Niterói (que teve sua inscrição prorrogada até 11/05 com desconto e 18/05 preço normal) e a construção do resumo.
         Márcia levantou a importância de escrevermos sobre como se aprende e não de como não se aprende. Muitas pessoas se preocupam com a aquisição do código e não com as outras inúmeras situações que permeiam este processo, o meio, as pessoas envolvidas, as conversas, as trocas, as investigações, as construções e tudo que está presente no ambiente escolar. A aprendizagem é muito mais que atividades de escrita.
 Vanessa S falou de uma atividade que realizou com sua turma. As crianças estavam divididas em grupo de 4 participantes, precisavam representar a sala de aula em uma cartolina branca, colando papéis coloridos para fazer a devida representação.
         Um grupo de crianças, que no dia a dia escolar diz não saber escrever, representou a sala respeitando muito seus detalhes. Observavam e colavam, juntos elaboravam hipóteses de escrita para denominar o objeto, escreveram tudo, quando não sabiam escrever o nome de algum amigo procuravam possíveis lugares que pudessem encontrá-los.
         Vanessa S. observou como a criança vai se apropriando, elaborando e reelaborando sua escrita e como sente necessidade de colocar sua escrita em seu cotidiano.
         Muitas vezes as crianças sentem-se inseguras em momentos oficias de escrita em sala de aula, acreditando não saber escrever, não se sentindo capaz de colocar seus saberes de maneira oficial, mas quando o foco muda, quando ela se sente pertencente a algo que precisa construir, ela se esquece de pensar que não sabe, permitindo se arriscar, assim mostra que é capaz.
         Tânia verbalizou que não conseguiu escrever sua narrativa, mas socializou uma vivencia com seu filho. Falou que acredita que a alfabetização ocorre em dois momentos. O primeiro momento quando existe o distanciamento e a aproximação, isso ocorre quando a criança está brincando com peças de montar e ela se aproxima e se afasta das peças (objeto de conhecimento) para então se relacionar com o objeto.
O outro momento é quando a criança brinca frente ao espelho e começa a duvidar de seus movimentos, ela desconfia que consegue produzir conhecimento e começa a explorar seus movimentos para ver se realmente é capaz.
         Tânia propôs uma atividade ao seu filho em sua casa, ele precisava trazer coisas que começavam com a letra “C”, ele conseguiu separar, com isso descobriu a importância de escrever, a importância do texto em sua vida. Quando as pessoas não estão conseguindo fazer algo não é porque elas não querem e sim porque não conseguem ou porque não entenderam seu verdadeiro sentido. Estas atividades fizeram sentido a partir dos acontecimentos e vivências experimentados por ele.
         Márcia falou sobre o trabalho da Elvira Lima com neurociência, intitulado “Todos podem aprender a ler e a escrever”, no qual ela traz a questão da cultura e do fortalecimento da autoestima.
         Essas discussões aconteceram para decidirmos como faremos nosso resumo.
         Mafê levantou a questão da singularidade das crianças. Que muitas vezes o discurso das pessoas em relação à escola, permanece em dois extremos ou se pode tudo ou então falamos da escola dos anos 50. Falou da importância de pensarmos as relações de hoje, das nossas escolas, das nossas vivências.
         Simone complementou questionando qual relação existe na escola. Que na verdade não existe relação, apenas a professora ensina e quer que o aluno aprenda.
         Realmente, quando a relação entre professor e aluno foi estabelecida desta maneira, ela existe, mas não é uma relação muito proveitosa, pois a professora acredita que o único papel do aluno na escola é aprender aqueles determinados conceitos que ela tem a ensinar, sabemos que as aprendizagens vão muito além disso. Não é apenas a professora que ensina na escola e também a criança não aprende apenas o que está nos livros. Felizmente as aprendizagens e as “ensinagens” são muito mais complexas.
         Márcia levantou que muitas vezes o conteúdo é o foco e o aluno é o processo, brilhantemente ela nos brindou com o inverso, argumentando que o aluno é o foco e o conteúdo é o instrumento de trabalho para que o desenvolvimento possa acontecer. Essa mudança de foco é fundamental para percebermos o aluno com sua devida importância.
         Mafê trouxe um texto de Wanderley Geraldi que fala do professor, do conhecimento (aula) e do aluno. A aula seria a transformação do aluno, que transformaria o professor, que transformaria a aula e assim sucessivamente, surgindo uma roda viva.
         Anapersia falou de sua experiência como professora, sua coordenadora pegava o planejamento que foi feito nos anos 80 e queria que ela fizesse a mesma coisa em 98. Ela possui uma inquietação, acredita que o aluno transforma e constrói muitas coisas, mas o professor é a base de tudo para que o aluno consiga construir.
         Márcia diz que para construir uma relação proveitosa é preciso desaprender, para que o grupo possa estar aberto e envolvido, esse trabalho quem realiza é o coordenador e leva tempo para que isso aconteça. O trabalho que ela realizou na Cidade dos meninos em Jundiaí demorou 5 anos para começar a acontecer desta maneira. Desconstruir para construir é trabalho do coordenador.
         Renata pontuou que a realidade e o contexto interferem bastante nas relações estabelecidas entre as pessoas. Dependendo do grupo o envolvimento é maior ou menor, às vezes as pessoas estão muito envolvidas e em outros momentos outras pessoas não estão nada envolvidas com o assunto. Perguntou como o desejo de envolvimento é provocado no outro para fazer e construir o novo?
         Simone contou uma experiência que ocorreu na escola em que trabalha, lá tem uma professora que diz que ela não é doce para as crianças gostarem dela. Muitas pessoas acreditam que essa á a maneira certa de se envolver com os alunos e se relacionar com o ensino- aprendizagem, muitas pessoas falam que professora boa é a professora brava, que dá muita lição, que deixa sua sala em silêncio e que é assim que o aluno aprende.
         Vanessa S. complementou com suas experiências, no lugar que ela trabalha muitas pessoas também compartilham desta ideia acreditando que a rigidez é necessária, ficam incomodadas quando ela propõe algo diferente a seus alunos.
         Márcia falou que toda essa energia contida em algum momento estoura de maneira não muito adequada. O grupo e suas relações são muito importantes, é isso que valoriza a experiência humana. Existem muitas coisas envolvidas nas relações com o conhecimento que é fundamental.
         Tânia compartilhou a fala de um pai de um aluno, ele dizia que a jornada de trabalho de seu filho começa bem cedo, às 6 horas da manhã, essa é a nossa realidade, disse também que a nossa sociedade infantiliza os adultos e sexualiza as crianças, indo além e questionando como o corpo é trabalhado na escola.
         A partir da fala da Tânia, e refletindo sobre a questão do corpo, espaço e tempo na escola, Mafê começa a falar sobre o lugar da criação e nos leva a pensar sobre a criança e o lugar/espaço da sala de aula..., E nos deixa a questão: ...será que toda professora se coloca a pensar que as crianças se apropriam do espaço?
         Iniciamos a leitura das narrativas para contribuir com a escrita do resumo para o congresso.
         Vanessa G leu sua narrativa e levantamos os seguintes pontos:
         As crianças produzem textos mesmo sem escrever. O adulto como escriba.
         A aprendizagem partindo dos centros de interesses das crianças ou partindo de projetos sugeridos por elas.
         Linguagens que constituem o texto lido e escrito.
         Que lugar a criança ocupa? A criança como ser atuante no planejamento escolar, nos acontecimentos da sala de aula e nas práticas. A criança como produtora de cultura e de conhecimento.
         Renata leu sua narrativa e levantamos os seguintes pontos.
         Qual conhecimento as crianças produzem no momento da cópia, da leitura livre, das atividades diferenciadas?
Quais atividades proporcionam a constituição do grupo?
Diferentes concepções de produção de texto, de escrita e de leitura.
         Simone leu sua narrativa que começou com as seguintes perguntas.
         O que diferencia o trabalho de cada uma de nós? O que se torna (ou nos torna?) único e singular? É como olhamos para cada criança e para cada solicitação que nos fazem? É como organizamos a aula e planejamos a rotina? São as escolhas que fazemos e as que deixamos de lado? É tudo isso e muito mais?
         Levantamos os seguintes pontos.
         Criança produtora de conhecimento.
         Potencializar centros de interesse/ projetos.
         Potencializar atividades diferenciadas.
Quando a organização do espaço revela a concepção, grupos fortalecem trocas.
Quando o outro é conteúdo.
Como o que penso está materializado esteticamente.
Reorganizar a forma de aprendizagem que é ouvindo, lendo, falando, escrevendo.
Mafê não terminou de escrever sua narrativa, mas falou sobre ela. Levantamos os seguintes pontos.
O que mobiliza?
Autor/ teórico como interlocutor.
Parcerias que mobilizam?
Finalizamos refletindo sobre a frase que a Renata nos disse: ”O que é difícil, mas é possível”. O que é difícil gera um desafio, mas não é possível de fazer.
Márcia contribuiu dizendo que sempre tem algo que está mobilizando as pessoas.
Combinamos que a Márcia iria esboçar o resumo para o congresso, mas só poderá fazer isso no domingo. Quando ela fizer irá nos enviar para darmos o nosso pitaco.
               

sábado, 5 de maio de 2012

O que nos diferencia?

O que diferencia o trabalho de cada uma de nós? O que se torna único e singular? Ë como olhamos para cada criança e para cada solicitação que nos fazem? É como organizamos a aula e planejamos a rotina? São as escolhas que fazemos e as que deixamos de lado? É tudo isso e muito mais?

Ouço de pessoas não envolvidas com a educação do quanto temos privilégios em trabalhar tão pouco, apenas 6 horas diárias, e fico pensando como e onde nosso trrabalha começa a acontecer, começa a ser pensado, planejado e muitas vezes literalmente sonhado horas antes em casa, enquanto dirigimos, fazemos compras ou qualquer outra tarefa de nosso dia a dia, quando vemos um livro sobre dinossauros ou corpo humano a venda...

Quando as escolas municipais de Campinas começaram a pensar no trabalho com os ciclos, um dos maiores desafios surgidos – ao menos para mim – foi como dar conta de tantas necessidades de aprendizagem distintas em uma mesma sala. Não que essa não fosse uma preocupação anterior, mas com a nova tentativa de organização fomos levadas a pensar em agrupamentos por saberes, atividades distintas para cada um deles, preparação e organização de acontecimentos na aula que proporcionassem um real salto em seu aprendizado.

Cursos foram oferecidos, participamos de grupos de estudo sobre o ciclo, mas certos acontecimentos de uma aula estão além de qualquer situação que possamos prever ou planejar.

Na última quarta-feira – dia em que recebo em minha sala uma estagiária do Projeto Mais Educação das 7hs às 9hs –  como de costume a sala estava organizada para trabalharmos com 3 tarefas diferentes. Um grupo de 6 crianças que ainda precisam aprender os sons de todas as letras e relacioná-los a grafia das mesmas (este grupo é sempre atendido pela estagiária com apoio da Mafê das 7h50 às 8h40). Um segundo grupo de 8 crianças que já estão alfabetizadas, portanto leem  e escrevem bem e um terceiro grupo de 11 crianças que estão no meio do caminho entre o primeiro e o segundo grupo.

É claro que mesmo dentro destes 3 grupos distintos cada criança tem sua singularidade de necessidades, de experiências e de curiosidades.

Como estamos estudando dinossauros, o grupo de crianças alfabetizadas tinha como tarefa ler um texto informativo sobre o Estegossauro (dinossauro herbívoro) e produzir um cartaz com as informações mais relevantes do texto para apresentação ao restante da turma no final da aula.

Já havíamos coletivamente produzido dois outros cartazes sobre dinossauros herbívoros (apatossauro e triceratopo) nas semanas anteriores, eu estaria naquele momento dando apoio ao grupo de 11 crianças e pedi que começassem a tarefa lendo o texto informativo para identificar – segundo a opinião deles – quais informações eram mais importantes ou chamavam mais a atenção.

É incrível porque ainda me surpreendo com estas crianças... no momento que disse leiam o texto primeiro... todas, sem exceções dedicaram sua atenção a leitura do texto. Um diferencial muito marcante neste grupo é que não vejo crianças dizendo não quero, não vou fazer, não, não, não... geralmente aceitam as propostas e ainda as complementam com novas ideias para pesquisa e estudo.

Depois de alguns minutos, um dos meninos, L.W. veio até  mim e disse que precisava de ajuda para entender duas coisas do texto, primeiro o que era quadrúpede (palavra que ainda não havia surgido em nenhuma leitura anterior) e segundo, que ele achava muito estranho que todos os primeiros fosséis dos dinossauros estudados tinham sido encontrados nos EUA... estava indignado porque nunca achavam primeiro no Brasil e disse:

- Pro, a gente precisa pesquisar os dinossauros aqui do Brasil, será que nunca acharam nenhum aqui?

Já tinhamos um combinado anterior, uma lista de questões que escreveram em duplas no começo do ano sobre o que desejavam saber sobre os dinossauros, as quais organizamos em um cartaz, que está afixado na parede da sala e que vamos seguindo conforme as dúvidas são satisfeitas.


Diante de tamanho interesse, na semana seguinte começamos a pesquisar os dinossauros encontrados no Brasil, mas para mim foi um “sacada” do L.W. que jamais poderia prever, pensei que o texto os levaria por outros caminhos, como se defendiam de seus predadores, a estrutura do seu corpo com couraças, etc.
No final deste dia perguntei ao grupo como fariam a a apresentação do cartaz e L.W. foi o escolhido para falar para toda a turma, é lógico que não se esqueceu de dizer que precisávamos começar a pensar nos  “dinossauros brasileiros”...

Por Simone Franco

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Desencontros entre a formação e um de seus principais interlocutores – os professores.

Renata Frauendorf 

     Muitas vezes nesse papel de formador me questiono como diminuir a distância entre o que se fala na formação e o que de fato chega à sala de aula. 
     Em busca dessa aproximação procuro guardar um tempo, precioso, para visitar escolas e entrar na sala de aula para observar e assim, me alimentar da realidade como costumo dizer. É o momento de colocar o pé no chão! 
    Sempre combino com o coordenador que combina com a professora antes para evitar um mínimo de constrangimento, o que é quase impossível de acontecer, geralmente quando chego à sala recebo um olhar meio desconfiado do tipo: “O que ela quer justo na minha sala?” 
    E nesse dia não foi diferente, ao entrar numa sala de 5º ano, dei um alô para os alunos conversei rapidamente com a professora que me disse que estava trabalhando produção de textos naquele momento, pois estava desenvolvendo um projeto sobre lendas. 
    Nossa! Eu pensei, dei sorte, pois este era justamente o conteúdo de minhas formações com os coordenadores. Assim fui para um canto da sala, e fiquei observando. 
    A atividade consistia em copiar uma lenda do livro. Quarenta minutos se passaram num silêncio tenebroso, quatro lousas foram preenchidas e as crianças apenas copiando. Compreendi o que significava para esta professora Produção de texto. 
    Ao terminar essa quase tortura, no meu ponto de vista, não no dá professora, as crianças foram orientadas a pegarem livros ou revistas e, animadamente, dois meninos devoraram a revista Ciência Hoje. 
     No meio dessa agitação reparei em duas outras crianças que estavam sentadas bem à frente da mesa da professora. Elas tinham uma tarefa diferente, ao me aproximar a professora comentou: “Esses são aqueles que não avançam! Precisam de uma atividade diferenciada”. 
    Então, vi um menino com olhar triste separando letras para formar palavras de uma lista qualquer.     Definitivamente o “diferenciada” da professora não era o mesmo que o meu. 
    Fiquei ao lado dele por um tempo, e em seguida pedi se poderia ler para mim o que tinha feito. Com aquele mesmo olhar de tristeza me disse: “Eu não sei ler.” Eu perguntei: “e as letras você conhece alguma dessas?” Timidamente apontou a de seu nome, do nome da irmã e estabelecemos uma pequena conversa que nos aproximou um pouco. 
    Voltei para a lista que tinha feito e pedi que me dissesse onde estava escrito determinada palavra o que ele apontou corretamente logo de cara, nem titubeou... E dessa forma ele foi ganhando confiança e diante de meus pedidos buscava outras palavras na lista, mesmo diante de seus equívocos não parava, pois as pistas que eu lhe oferecia ajudavam a retomar suas reflexões. 
    Fiquei tão encantada com ele que nem vi quando a professora se aproximou, apenas sei que quando a notei ela já estava ali observando nossas descobertas. 
    Nosso tempo infelizmente terminou e aquele olhar triste deu lugar a um imenso sorriso. Achei melhor voltar ao meu lugar e de longe vi quando ele todo orgulhoso se aproximou da professora e perguntou: “E agora o que faço?” E ela respondeu: “Volte ao seu lugar e copie as palavras que você montou.” E eu, “eu chorei por dentro”. 
    Para encerrar esse dia, ao sairmos para o parque me aproximei da professora e ainda num sopro de esperança comentei: “Nossa você viu que bacana que o J. conseguiu ler. Ele leu todas as palavras”. 
     Para o que ela me respondeu: “Também com todas as dicas que você deu quem não ia ler”. 
    E diante de sua resposta, não legitimando o que eu tinha feito, porque ler para ela é outra coisa, chorei por dentro novamente. 


quinta-feira, 3 de maio de 2012

Registro do encontro de 18.04.2012


Participantes: Helô, Tania, Vanessa G, Vanessa S, Mafê, Simone, Márcia, Ana Pérsia e Renata.
   Responsáveis pelo registro: Anapersia e Renata

Livro. Jazinski
 Começamos... um tanto  perdidas...

 Mafê nos brindou com uma aula de como utilizar o Blog criado entre nossos encontros. Nesse momento, falamos um pouco de tudo: o nome que deve ter o grupo - buscou-se no Google algumas referencias-, depois focamos no nome do Blog e sua adequação, voltamos a discutir o nome do grupo... Enfim, nessa conversa conseguimos definir algumas coisas mesmo que temporariamente.

Alguns combinados iniciais

·         Horário: 18h 30 às 20h30
·         Ficou decidido que o nome do blog pode ser esse mesmo, mas que do grupo deverá ser alterado.
·         Ficou decidido também que o registro será feito por duas pessoas porque fazendo em dupla tem a troca para melhorar o texto uma vez que o mesmo vai ser publicado no blog. ( isso também foi acordado).
·         Ficou decidido que vamos participar do congresso em agosto em Niterói e que cada uma deverá escrever um texto relatando suas singularidades ao alfabetizar. ( mais abaixo detalhamos melhor essa ideia)
·         Ficou decidido que iniciaremos os nossos encontros com a leitura do registro do encontro anterior para possíveis ajustes e revisão e posterior publicação.

Depois de algumas definições quando tudo parecia estar meio perdido...

Helô e Mafê retomam a pauta que tinham planejado. Aliás, aqui se apresenta uma importante finalidade para a mesma, pois, ao contrário de engessar, o planejamento muitas vezes nos ajuda a retomar ou mesmo reorientar nossos caminhos e assim dar um sentido àquilo que parecia estar perdido.
Então fizemos as apresentações da Simone e Anapersia que não estavam no primeiro encontro.

  •       Simone Franco: formada em Pedagogia – Unicamp – especialização – Pesquisa e tecnologia na formação docente. Trabalha na escolinha branca há 12 anos no Jardim São Marcos. Diz: “Estou vivendo um momento feliz... é a turma de 2º ano... pois é uma turma que corresponde ao que você propõe”... A maioria das famílias é muita participativa e isso tem tido uma repercussão no meu trabalho”. Em seguida elenca algumas dificuldades em seu trabalho: conciliar o brincar , as necessidades especificas das crianças com as questões burocráticas. E termina com uma linda declaração de amizade e cumplicidade: “A parceria que tenho com a Mafê-  é o diferencial – é o que me ajuda a sobreviver na escola”.
  •         Anapérsia se apresenta dizendo: “Já trabalhei em diferentes escolas e em diferentes funçõescomo coordenadora, diretora, professora. Tive uma escola incentivada pela leitura do livro A paixão de conhecer o mundo – Madalena Freire. Trabalhei com diferentes metodologias , mas acredito  que a criança constrói seu conhecimento e, muitas vezes, quando lançava propostas nessa direção era mal compreendida.”  Atualmente trabalha como coordenadora de 1º a 9ºano na Fundação Antonio-Antonieta Cintra Gordinha e tem a Marcia como parceira - diretora, mas ainda diz se sentir  insegura pois sempre foi muito tolhida.

           Na sequência discutimos sobre o trabalho para apresentar no Congresso – Niterói – 6 a 9 de agosto.
           Tânia sugere como um impulsionador poético para assistirmos ao filme: Como estrelas na terra –que narra a história do processo de alfabetização de uma criança disléxica e acredita que o enredo  pode alimentar a nossa discussão sobre concepção.

A conversa finalmente encontra um rumo...
Aqui nosso encontro assumiu outra cara e de repente estávamos todas mobilizadas a encontrar pistas, ideias que pudessem ser o mote desse trabalho para o congresso de Niterói. Então, Mafê recupera a discussão de nosso primeiro encontro e conclui que diante de tantos dilemas, há um que percorre todas as falas e sintetiza nessa questão: “Quem alfabetiza quem?”
Nessa conversa concluímos a partir da fala da Márcia que faz 30 anos que as mesmas questões são discutidas, questões como: por que as crianças não aprendem, o que deve ser oferecido de fato a elas nesse processo de adentrar essa cultura escrita, quem é o responsável pela alfabetização... ou seja,são essas questões que nos  inquietam enquanto grupo.
Algumas propostas para o trabalho para Congresso foram levantadas:
Falar da singularidade da experiência – presente no texto da Mafê, nas nossas discussões. Que singularidade é essa?
Mas de que experiência falamos?
“A vivencia é tudo aquilo que você vive. De tudo o que você vive há coisas que te marcam e te transformam”. Isso que te toca é a experiência no sentido Larrosiano, nos brinda Márcia já quase no final do encontro para nos situar a questão anterior.
“Nossa ideia é discutir alfabetização como algo mais amplo não estamos querendo focar na aquisição dosistema de escrita” diz Helô.
Renata então complementa afirmando que é preciso ter claro o que queremos enquanto grupo, pois se por um lado não é discutir sobre o sistema de escrita por outro também não é ficar num discurso teórico, de ideias, apenas. E diz: “O professor ao enfrentar seus dilemas na sala de aula muitas vezes precisa de algo mais chão, mais concreto e não será com um discurso mais teórico que o atenderemos em sua necessidade. É preciso oferecer algo de nossa experiência que o apoie...”
Helô valida a proposta e recupera uma característica do grupo que é a sua singularidade e o quanto isso pode ser um importante diferencial. Sugere então que cada uma escreva uma pequena narrativa falando do lugar seja professor, coordenador, diretor, formador, mãe... sobre questões e caminhos relacionados ao que nos inquieta na alfabetização...de forma que venha a contribuir com outros profissionais que pensam e vivem a escola.
Finalizamos nosso encontro nos apoiando no conceito de Bakthin, que nossas parceiras integrantes do GRUPAK nos presentearam sobre excedente de visão
“O outro tem “uma experiência de mim que eu próprio não tenho, mas que posso, por meu turno, ter a respeito dele.”Geraldi. 
Enfim não conseguimos nos ver por inteiro, totalmente. Precisamos do outro para nos completar” (http://glossariandobakhtin.blogspot.com.br – acessado em 01/05/12).

TU ELE


                                                                               Tânia Villarroel


Porque todo o relacionamento é amoroso – inclusive o pedagógico, porque são pessoas em primeiro lugar. Sempre amoroso, em alguma medida – porque nos afeta e nos ensina a escolher o que amar e o que querer realmente transformar, em nós e no(s) outro (s). Porque por algumas causas, é melhor mudar... Juntar sua bagagem para desfazer-se dela, recolher os pedaços de um-tudo-um-pouco para fluir-se intensamente nas experiências que nos colocam em risco. Fazer uma viagem longa e profunda num deslocamento infinito para a fronteira de mim para o outro em mim – onde nossas línguas se misturam e criando algo só nosso, que só nós entendemos de nós, por isso cumplicidade. Um desterritório do outro que em mim me atormenta a alma, que até febril, passa a ser algo melhor do que eu nunca fui e nem imaginei ser! [Tânia Villarroel]


Tu e eu, de Luís Fernando Veríssimo
Somos diferentes, tu e eu
Tens forma e graça
E a sabedoria de só saber crescer até dar pé.
Eu não sei onde quero chegar
E só sirvo para uma coisa
- que não sei qual é!
És de outra pipa
E eu de um cripto.
Tu, lipa.
Eu, calipto.













Gostas de um som tempestade
Roque lenha
Muito heavy
Prefiro o barroco italiano
E dos alemães
O mais leve.

És vidrada no Lobão
Eu sou mais albônico.
Tu, fão.
Eu, fônico.

És suculenta
E selvagem
Como uma fruta do trópico
Eu já sequei
E me resignei
Como um socialismo utópico.
Tu não tens nada de mim
E eu não tenho nada teu.
Tu, piniquim.
Eu, ropeu.

Gostas daquelas festas
Que começam e terminam pior
Gosto de graves rituais
Em que sou pertinente
E, ao mesmo tempo, o prior.
Tu és um corpo e eu um vulto,
És uma miss, e eu um místico.
Tu, multo.
Eu, carístico.

És colorida,
Um pouco aérea
E só pensas em ti.
Sou meio cinzento,
Algo rasteiro,
E só penso em Pi.
Somos cada um de um pano
Uma sã e o outro insano.
Tu, cano.
Eu, clidiano.
                              


Dizes na cara
O que te vem à cabeça
Com coragem e ânimo.
 Hesito entre duas palavras,

Escolho uma terceira
E no fim digo o sinônimo
Tu não temes o engano
Enquanto eu cismo
Tu, tano.
Eu, femismo.





quarta-feira, 2 de maio de 2012

Quem alfabetiza quem?

Mafê

Era o primeiro dia de encontro do Grupal (? - rs).
Dizendo de minhas expectativas e daquilo que me mobiliza, contei dos desafios colocados por um trabalho que deseja considerar a potência da diversidade em sala de aula.
Tomo algumas falas das prôs companheiras de grupo para dizer das minhas questões.
E - em uma discussão que começa a entrar no tema da minha dissertação de mestrado - respondo ao pedido de Carla, Renata e Tânia: conto um pouco do meu trabalho como professora, com turminha em processo de alfabetização.
Já não lembro mais do que disse... lembro das questões em torno do que eu disse.... (Eu e as "questões"!)
O debate esquentou e começamos a dizer do quanto acreditávamos que todas as crianças poderiam aprender na escola ou não. A maior parte do grupo presente naquele dia tinha especialização em psicopedagogia e a discussão passou por alguns posicionamentos referentes ao atendimento em clínica... Individualizado.
Carla contou de sua experiência em clínica, do quanto passou a questionar atendimentos individualizados e de seus estudos tomando o grupo como fundamental para aprendizagem das crianças ditas "com dificuldades".
Contei da experiência  que estamos realizando na escola este ano: aproveitando a verba do programa do governo federal "Mais Educação" para privilegiar crianças que apresentam maior dificuldade na realização das atividades em sala de aula. Eu e Si temos uma estudante de Pedagogia, com bolsa, para nos acompanhar às quartas-feiras.
Carla questionou essa forma de intervenção: Não seria contraditório colocarmos as crianças separadamente, usufruindo da atenção de uma estranha em um trabalho que almeja potencializar a diversidade e dialogar com as crianças. Carla sugere que perguntemos às crianças se , para lidarem com seus maiores desafio, querem ajuda individualizada ou não. Não gostariam mais da presença da professora?
E sem ter tempo de entrar nesse novo debate/nova questão volto para casa com vontade de prosear mais com Carla e questionando os encaminhamentos tão defendidos por mim, perante as gestoras da escola inclusive... : Se podemos oferecer um atendimento mais próximo e individualizado para algumas crianças, por que não?
Na mesma semana converso com a estagiária e planejo o agrupamento de outra maneira... mais encorajada para ousar um modo de organização que conte com as escolhas das crianças entre mais de uma atividade. Faço um levantamento com a turma do que poderíamos fazer para "reativar" um trabalho com alfabeto já que algumas crianças ainda precisam memorizá-lo.
A turminha quase toda já não precisa mais de um trabalho em torno dos sons das letras e seus nomes, sequência da ordem alfabética e afins... Então propus o desafio de pensarmos em atividades que fossem desafiadoras para todos: como escrever textos colocando o alfabeto como "tema"? Como propiciar que os colegas que precisam digam a sequência do alfabeto todo os dias... ?
Algumas propostas surgiram.
No dia em que contamos com a ajuda da estagiária fizemos nossa primeira experiência com grupos organizados a partir de interesses e não necessariamente a partir daquilo que a prô diz que é necessário aprender.
Quem poderia imaginar que quase toda a turma quis ajudar a organizar um alfabeto temático (tema Corpo) na parede?
Para isso, organizaram sequência das letras, pesquisaram imagens , as classificaram e escreveram nomes das partes do corpo encontradas em revistas...
E o trabalho aconteceu muito bem!
Na saída... a estagiária já ia embora, quando a parei na porta da sala e perguntei o que tinha achado. Se pensava que valeria a pena investirmos nessa organização.
Para minha surpresa ela disse que sim, que tinha sido bacana e que viu um dos meninos que mais apresenta dificuldades ajudando outros dois!