segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Registro do encontro de 27.08 e a prosa a partir dele...


Breve registro feito por Mafê com pitacos da Renata, Helô e Idelvandre
Idelvandre – trabalha como professora coordenadora pedagógica, em uma escola estadual da Região Oeste de Campinas, no Campo Belo. A escola tem  54 salas de anos iniciais e sendo assim divide a coordenação com outra parceira, cada uma fica em média com 27 salas.
Conta para nós como é o desafio de trabalhar com 70 professoras juntas nos ATPCs ( antigo HTPC)– quando com períodos manhã e tarde juntos em dois tempos de 50mim.
Idelvandre é também formadora do Pacto e comenta que percebe o quanto o Estado tem avançado nas discussões sobre alfabetização. O material do Pacto está aquém do que vem sendo discutido nas formações de professoras alfabetizadoras do Estado.
Ítala – Formadora do Ler e Escrever e este ano está como formadora do PACTO. Professora alfabetizadora de escola municipal, também compartilha a mesma sensação em relação ao trabalho que vem sendo realizado na rede municipal.
Compartilhamos algumas cenas de momentos de formação dos grupos do PACTO
Mafê –  professora alfabetizadora da rede municipal
Renata – Formadora que presta serviço para Secretaria estadual. Participa de supervisão com a Telma Weisz e Kátia Brakling toda segunda-feira e indica o site Núcleo video (http://nucleodevideosp.cmais.com.br/) para conhecerem o que vem sendo feito, discutido sobre produção de texto, leitura e leitura e escrita pelo aluno. Renata trabalha nas  Diretorias de Campinas Oeste e Americana  com professores – coordenadores. Trabalha também no Instituto Avisa lá com educação a distância.
Simone – professora alfabetizadora há 13 anos na escola do Jd. São Marcos, participa do GRUPAD , por reconhecer nele espaço de diálogo de interessados na alfabetização e  não obrigados, como encontramos em muitos espaços.
Simone conta que estará na mesa do FALE e contamos à Idelvandre o que é este Fórum.
Si narrou um pouco da experiência que pretende compartilhar no dia que fechamos: 29/10. A ideia é compartilhar o processo de escrita de um Blog com alunos de 1º ano, os desafios, as conquistas os saberes construídos tendo como mediador o professor Clecio.
Comentamos que precisamos contatar a Roberta e a Thaís para verificarmos a possibilidade de criarmos inscrições para o FALE.
Retomamos os porquês da pesquisa sobre o trabalho realizado com leitura que queremos fazer no grupo e que foi lançado em junho.
Trouxemos algumas cenas das turmas e do desafio do professor oferecer propostas de fato significativas  com este conteúdo, uma vez que ficam mais presos a perguntas que pouco contribuem para os alunos dialogarem com o texto,  acabam restringindo-se a exercícios de interpretação...Um problema localizado nas diferentes redes não apenas publica mas também particular.
Renata conta do extenso trabalho que foi feito na formação pelo estado com o foco em produção de texto. Todo o ano de 2011 foi dedicado à questão da produção textual e o que é preciso oferecer para que os alunos escrevam bons textos. Ao analisar propostas da rede a grande maioria das atividades eram situações em que se oferece uma imagem ou tema e se pede para o aluno escrever. Neste ano retomou-se a reflexão e  continuamos a ver essa ação que é algo bem enraizado, porém agora após todo esse tempo já começa a se perceber um movimento e alguns  professores começam a se arriscar a fazer diferentes e questionar se os quadrinhos, imagens contribuem  para que os alunos produzam textos não escolarizados.
Ítala comenta o trabalho bacana que uma das professoras da escola faz com produção de texto.
Idelvandre faz questões para saber sobre minhas dúvidas em relação as dificuldades de leitura dos meus alunos. Pergunta se faço leitura compartilhada, com pausas para discussão do texto.
Simone narra um episódio com um aluno que apresentou resistência para integrar-se ao trabalho. Chegou no grupo neste ano , com histórico de repetência. Disse que ele pegou o Pequeno Príncipe na biblioteca e que sugeriu a leitura para a turma. Si tem lido para as crianças, que buscam o título na biblioteca. Hoje, cinco crianças acompanhavam a leitura da Si, com livros, de diferentes edições nas mãos, o que tem gerado boas discussões também. Refletimos que todo o envolvimento com esta leitura, apesar de inicialmente Simone achar que o livro não agradaria, ou mesmo tinha um conteúdo mais complexo, está muito ligado ao fato de que alguns alunos já conheciam o contexto da história pois há um desenho na TV  inspirado nesse livro e o quanto esse conhecimento os aproxima e ajuda a estabelecer relações.
Renata lembra do filme Minhas tardes com Margueritte em que essa relação com a leitura é construída pelo afeto, respeito e situações de verdadeiro encantamento.
Combinamos de continuar a nossa conversa no próximo encontro. E eu aproveito para deixar uma pergunta no ar que quem sabe ser o link para a próxima reunião e que recentemente me foi feita:
Qual a relação entre compreensão e fluência leitora?

Impressões e contribuições da Helô:
E eu que não estava no encontro porque achei melhor me preparar para o processo de qualificação que acontecerá nesta quinta-feira, fiquei feliz demais com o registro porque não me deixa de fora da discussão, porque me inclui pela escrita e porque está aberto e permite que eu também dialogue por aqui.
Tenho pensado muito sobre o mundo da leitura na escola. Como as relações se estabelecem entre os estudantes e o ato de ler. Como as aproximações entre estes dois são oportunizadas por todos nós. Claro que isso me faz ficar mais atenta ao cotidiano. Compartilho com vocês uma pequena narrativa de um encontro que aconteceu há mais de uma semana e ainda não abandonou meus pensamentos.

                Entre os alunos do 3º ano um me desafia o tempo todo. Muitas vezes dedico meu tempo a pensar sobre os seus processos de aprender, sobre o quanto me ensina e o quanto preciso aprender mais para estabelecer um diálogo mais intenso com ele. As conversas com sua professora sempre passam por ele de alguma forma. Ouço palavras que me desagradam e ferem, tento mediar. Já quase desisti, mas o pequeno garoto sempre me mostra um outro lado e acabo conquistada para tentar mais uma vez. Porque o processo de inclusão na escola é tão complicado? Essa pergunta permeia meus dias de trabalho, sempre.
                Será que tudo está relacionado a como enxergamos o nosso trabalho?
                Bem, num dia desses, dia de avaliação sistematizada para saber o que as crianças já sabem de tudo que estudamos para poder reorganizar os processos de planejamento para o próximo mês de trabalho, a professora do 3º ano e eu combinamos que com dois casos de alunos, seria bom que alguém mediasse a realização da atividade e que esta ocorresse fora da sala de aula. Um garoto é o que me referi no início desta narrativa e o outro da turma do período inverso. Achei que seria melhor que eu mesma realizasse esta intervenção, pois já estão bem acostumados comigo, temos um bom relacionamento e isso garantiria um processo mais tranquilo. Isso porque, às vezes, quando optamos por esta estratégia, o profissional que conduz a mediação acaba equivocando-se e impedindo que o estudante faça suas próprias reflexões. Acaba ajudando mais que devia, se é que me entendem (rs).
                Tudo contextualizado, vamos ao que me levou a querer compartilhar esse fragmento do cotidiano:
                Sai com o pequeno garoto da sala de aula e fui com ele até a biblioteca, porque pretendia realizar a atividade avaliativa naquele espaço. Ele correu para uma das estantes de livros e capturou um exemplar. Antes que eu dissesse para ler em outro momento, já lia as palavras da página colorida do livro que escolheu. Enquanto pedia para guardar o livro e o ajudava, sua mão desocupada já capturava outro exemplar. Ri e fui tomada pelo acontecimento. Por alguns segundos fiquei inerte. Mudamos de sala para poder realizar a atividade que insistia em nos chamar.

Comentário de Idelvandre:

Helô, ao ler este fragmento, fiquei imaginando, e tive a sensação que para esta criança a biblioteca era como um parque de diversão, onde cada livro representava uma nova aventura, que o atraia, independente do que estava proposto para ser realizado, pois a vontade incontrolada de ler era demonstrada pela euforia dos sentidos, em uma relação prazerosa com a leitura. Quantos alunos são assim? Talvez uns mais, outros menos? Ou alguns que não gostam de ler? Outros têm relação de amor e ódio pela leitura? Acredito que o professor além de modelo, também influencia os alunos na relação com a leitura, pois ele tem o poder de encantar ou desencantar os alunos, dependendo da forma como encaminha a leitura, e as possibilidades de leituras que oferecem aos alunos.

Continuando a conversa – Helô 30/08/2013
Então, acho que concordo com isso Idelvandre.
Tenho pensado muito no ato da escrita e como esse ato de escrever precisa de interlocução efetiva. Interlocução que dialogue com o autor. Na escola, esquecemos de olhar para as produções de nossos alunos com o caráter de autoria que elas merecem receber. Deu vontade de compartilhar outra situação com vocês:
Hoje, acompanhei a escolha do livro da biblioteca de classe onde as crianças escolhem um livro para levar pra casa e ler no final de semana. Isso na Educação Infantil. Eram três turmas: 1 ano e meio a 2 anos e meio, 2 anos e meio a 3 anos e meio, 4 anos e meio a 5 anos e meio. Fiquei encantada com algumas situações:
1.       Algumas crianças já sabiam o livro que queriam levar antes de iniciar o processo de escolher e diziam o nome das histórias, mesmo sem saber ler.
2.       Algumas crianças ficavam dizendo para o coleguinha escolher um livro ou outro para tirar a atenção desse coleguinha do livro que desejavam levar.
3.       Algumas crianças estavam levando o mesmo livro pela quarta ou quinta vez para casa.
4.       Todas as crianças demonstravam alegria e encantamento com a escolha do livro.
5.       Várias crianças depois de escolher o livro, começaram a folheá-los com olhos brilhantes.
6.       No portão uma mãe de uma criança de 3 anos disse: escolheu livro de galinha de novo? Toda semana ele leva livro de galinha. E riu.
Essas cenas do cotidiano da escola me fizeram ficar pensando na resposta da pergunta que a Renata nos faz. Afinal qual a relação entre compreensão e fluência leitora? Se as crianças pequenas não leem, como conseguem produzir compreensão sobre a obra literária? Por se encantam tanto com os livros? Como fazer para manter o encantamento?
Beijos e até mais.

Continuando a conversa – Idelvandre 30/08/2013

Bom, eu sempre tive interesse em descobrir como as crianças muito pequenas aprendem, por isso decidi trabalhar na Ed. Infantil, foi o que me deu base e segurança para depois trabalhar com alunos de primeiro ano. Minha experiência na Educação Infantil em sala de aula foi de três anos e um ano e meio na coordenação, já no Ensino Fundamental (1º ao 5º ano) foram sete anos em sala de aula e agora estou há três anos na coordenação, mas quero compartilhar uma experiência maravilhosa de leitura e escrita na Educação Infantil.
Desde o início do ano letivo lia diariamente para os meus alunos e conversávamos sobre os diversos tipos de textos. Levava-os para escolher livro na Biblioteca da Escola, para que eles lessem. Eles gostavam de ler mesmo antes de saber ler convencionalmente, era o dia que eles mais gostavam, escolhiam o livro, sentavam no tapete ou almofada para ler sozinhos ou com um amiguinho, era interessante vê-los imitando o comportamento leitor, fazendo comentário, mostrando, sorrindo, encantados e interagindo com o livro e com os colegas. Em outro dia também escolhiam livros para serem lidos com a família no fim de semana. Era uma festa! Também traziam livros que tinham em casa para que eu lesse para a turma. Na roda da conversa sempre contavam sobre os livros que tinham lido no fim de semana.
Todas as vezes que lia para eles eu ficava feliz em vê-los tão deslumbrados com os livros e com a participação ativa. No final do ano letivo participávamos de uma Feira Literária, em que os livros eram confeccionados juntamente com os alunos, e as histórias eram de autoria da turma, ou reescrita de contos. Eles produziam textos maravilhosos (eu escrevia para eles), e todos participavam da feira literária juntamente com a família.
Certa vez levei a produção dos meus alunos da Educação Infantil para ler para os meus alunos do Ensino fundamenta (4ª série), eles ficaram admirados como crianças de quatro anos produziam textos tão bons.
Desse modo fui me constituindo professora, refletindo sobre minha prática, e buscando respostas para minhas perguntas, através de estudos, pesquisas e reflexões com colegas, sobre nosso trabalho pedagógico. Saber como as crianças aprendem é de fundamental importância para mediar durante o processo, decidindo como intervir favorecendo avanços significativos. A busca por novos conhecimentos sempre me motivou a melhorar minha prática pedagógica tendo em vista a aprendizagem de todos os alunos.
A partir desta experiência penso que a relação entre compreensão e fluência leitora está no uso da linguagem oral, e nas interações possibilitadas por ela, para se compreender a linguagem escrita, através de discussões e reflexões possibilitadas pelo professo. Ao fazer uma leitura para os alunos, ou ler com os alunos, o professor ativa os conhecimentos prévios, explicita os propósitos de leitura, utiliza as estratégias de leitura antes, durante e depois, para que os alunos encontrem sentido no texto, de forma compartilhada. Desse modo favorecendo a aprendizagem do comportamento leitor, ampliando o repertório de leitura, favorecendo a produção textual, de textos bem escritos, mesmo antes de saberem ler e escrever convencionalmente, neste caso o professor como escriba textualiza as produções dos alunos.
Espero ter contribuído mais um pouco nesta conversa gostosa.
Beijos!
Idelvandre

Bom eu vou de laranja. Rs
Desde que recebi o registro de volta deixei ele guardadinho pois queria muito continuar a conversa, mas cadê tempo? Então resolvi destacar algumas coisas no registro que me chamaram atenção e que acho que pode contribuir nesse exercício de reflexão.
A pergunta disparadora é qual a relação entre compreensão e fluência leitora. Diante desses trechos novas questões saltaram meu olhar e penso que a partir do texto que a Itala nos envia e os que sugiro anexo poderíamos trazer alguns autores para nossa conversa não ficar tão só entre nós e nossas certezas.
Assim outras questões que se desdobram: O que é compreender um texto para mim? O que é fluência leitora? Quando eu leio para o outro o que o faz se encantar, envolver-se? E quando leio sozinho (aqui pensando nos maiores, que já compreenderam o funcionamento do sistema de escrita) o que me aproxima e o que me repele do texto?  
A outra questão é há diferentes práticas de leitura presentes na salas de aula e que aqui foram citadas: aqui temos citada: roda de biblioteca ou roda literária, ou roda de leitura (são muitos nomes), leitura pelo professor, leitura compartilhada (com os alunos)...leitura pelo aluno ( criança a folheá-lo com olhos brilhantes.)
Incluo aqui um pequeno relato de uma experiência em que alunos maiores ( 5º ano/4º ano) leem em voz alta para alunos menores (de 2º ano/1ºano) justamente para que esses meninos que estão lá nos anos mais avançados reencontrem esse brilho nos olhos ao ler e que foram perdendo ao longo de seu processo escolar. Ai junta o pedaço da Del sobre professores como referência...
 Essa experiência foi vivida recentemente em algumas escolas estaduais aqui de Campinas e Americana.
Recupero um registro dessa experiência na visão de uma professora e de uma aluna:
“...os alunos passaram a ler com mais frequência na sala de aula, com maior desenvoltura e disposição. A entonação melhorou muito, pois a responsabilidade de mostrar para o 1º ano o prazer e a importância da leitura fez com que se preocupassem em imitar a voz do personagem, ler mais alto, saber interpretar o que foi lido. Prof.AP– 5º ano
Eu gostei muito de ler a história “ Chapeuzinho Amarelo”....
Primeiro eu respirei, depois perguntei para ela se podia começar. Fiquei um pouco nervosa e com vergonha.
No meio da história, vi que a menina não estava prestando atenção e pensei que a história estava chata. Mas depois em algumas partes engraçadas ela deu risada....” I.C – 5º ano.

Bem acho que descobrimos um outro caminho que é dialogar a partir de/com/no registro de nosso encontro. Olha que potente!! Bjs RE 


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