Breve registro feito
por Mafê com pitacos da Renata, Helô e Idelvandre
Idelvandre – trabalha como professora coordenadora
pedagógica, em uma escola estadual da Região Oeste de Campinas, no Campo Belo.
A escola tem 54 salas de anos iniciais e
sendo assim divide a coordenação com outra parceira, cada uma fica em média com
27 salas.
Conta para nós como é o desafio de trabalhar com 70
professoras juntas nos ATPCs ( antigo HTPC)– quando com períodos manhã e tarde
juntos em dois tempos de 50mim.
Idelvandre é também formadora do Pacto e comenta que percebe
o quanto o Estado tem avançado nas discussões sobre alfabetização. O material
do Pacto está aquém do que vem sendo discutido nas formações de professoras
alfabetizadoras do Estado.
Ítala – Formadora do Ler e Escrever e este ano está como
formadora do PACTO. Professora alfabetizadora de escola municipal, também
compartilha a mesma sensação em relação ao trabalho que vem sendo realizado na
rede municipal.
Compartilhamos algumas cenas de momentos de formação dos
grupos do PACTO
Mafê – professora
alfabetizadora da rede municipal
Renata – Formadora que presta serviço para Secretaria
estadual. Participa de supervisão com a Telma Weisz e Kátia Brakling toda
segunda-feira e indica o site Núcleo video (http://nucleodevideosp.cmais.com.br/)
para conhecerem o que vem sendo feito, discutido sobre produção de texto,
leitura e leitura e escrita pelo aluno. Renata trabalha nas Diretorias de Campinas Oeste e Americana com professores – coordenadores. Trabalha
também no Instituto Avisa lá com educação a distância.
Simone – professora alfabetizadora há 13 anos na escola do
Jd. São Marcos, participa do GRUPAD , por reconhecer nele espaço de diálogo de
interessados na alfabetização e não
obrigados, como encontramos em muitos espaços.
Simone conta que estará na mesa do FALE e contamos à Idelvandre
o que é este Fórum.
Si narrou um pouco da experiência que pretende compartilhar
no dia que fechamos: 29/10. A ideia é compartilhar o processo de escrita de um
Blog com alunos de 1º ano, os desafios, as conquistas os saberes construídos
tendo como mediador o professor Clecio.
Comentamos que precisamos contatar a Roberta e a Thaís para
verificarmos a possibilidade de criarmos inscrições para o FALE.
Retomamos os porquês da pesquisa sobre o trabalho realizado
com leitura que queremos fazer no grupo e que foi lançado em junho.
Trouxemos algumas cenas das turmas e do desafio do professor
oferecer propostas de fato significativas com este conteúdo, uma vez que ficam mais
presos a perguntas que pouco contribuem para os alunos dialogarem com o texto, acabam restringindo-se a exercícios de interpretação...Um
problema localizado nas diferentes redes não apenas publica mas também
particular.
Renata conta do extenso trabalho que foi feito na formação pelo
estado com o foco em produção de texto. Todo o ano de 2011 foi dedicado à
questão da produção textual e o que é preciso oferecer para que os alunos
escrevam bons textos. Ao analisar propostas da rede a grande maioria das
atividades eram situações em que se oferece uma imagem ou tema e se pede para o
aluno escrever. Neste ano retomou-se a reflexão e continuamos a ver essa ação que é algo bem
enraizado, porém agora após todo esse tempo já começa a se perceber um
movimento e alguns professores começam a
se arriscar a fazer diferentes e questionar se os quadrinhos, imagens
contribuem para que os alunos produzam
textos não escolarizados.
Ítala comenta o trabalho bacana que uma das professoras da
escola faz com produção de texto.
Idelvandre faz questões para saber sobre minhas dúvidas em
relação as dificuldades de leitura
dos meus alunos. Pergunta se faço leitura compartilhada, com pausas para
discussão do texto.
Simone narra um episódio com um aluno que apresentou
resistência para integrar-se ao trabalho. Chegou no grupo neste ano , com
histórico de repetência. Disse
que ele pegou o Pequeno Príncipe na biblioteca e que sugeriu a leitura para a
turma. Si tem lido
para as crianças, que buscam o título na biblioteca. Hoje, cinco crianças
acompanhavam a leitura da Si, com livros, de diferentes edições nas mãos, o que
tem gerado boas discussões também. Refletimos que todo o envolvimento com esta
leitura, apesar de inicialmente Simone achar que o livro não agradaria, ou
mesmo tinha um conteúdo mais complexo, está muito ligado ao fato de que alguns
alunos já conheciam o contexto da história pois há um desenho na TV inspirado nesse livro e o quanto esse
conhecimento os aproxima e ajuda a estabelecer relações.
Renata lembra do filme Minhas tardes com Margueritte em que
essa relação com a leitura é construída pelo afeto, respeito e situações de
verdadeiro encantamento.
Combinamos de continuar a nossa conversa no próximo encontro.
E eu aproveito para deixar uma pergunta no ar que quem sabe ser o link para a
próxima reunião e que recentemente me foi feita:
Qual a relação entre compreensão e fluência leitora?
Impressões
e contribuições da Helô:
E eu
que não estava no encontro porque achei melhor me preparar para o processo de
qualificação que acontecerá nesta quinta-feira, fiquei feliz demais com o
registro porque não me deixa de fora da discussão, porque me inclui pela
escrita e porque está aberto e permite que eu também dialogue por aqui.
Tenho
pensado muito sobre o mundo da leitura na escola. Como as relações se
estabelecem entre os estudantes e o ato de ler. Como as aproximações entre
estes dois são oportunizadas por todos nós. Claro que isso me faz ficar mais
atenta ao cotidiano. Compartilho com vocês uma pequena narrativa de um encontro
que aconteceu há mais de uma semana e ainda não abandonou meus pensamentos.
Entre os alunos do 3º ano um me
desafia o tempo todo. Muitas vezes dedico meu tempo a pensar sobre os seus
processos de aprender, sobre o quanto me ensina e o quanto preciso aprender
mais para estabelecer um diálogo mais intenso com ele. As conversas com sua
professora sempre passam por ele de alguma forma. Ouço palavras que me desagradam
e ferem, tento mediar. Já quase desisti, mas o pequeno garoto sempre me mostra
um outro lado e acabo conquistada para tentar mais uma vez. Porque o processo
de inclusão na escola é tão complicado? Essa pergunta permeia meus dias de
trabalho, sempre.
Será que tudo está relacionado a
como enxergamos o nosso trabalho?
Bem, num dia desses, dia de
avaliação sistematizada para saber o que as crianças já sabem de tudo que
estudamos para poder reorganizar os processos de planejamento para o próximo
mês de trabalho, a professora do 3º ano e eu combinamos que com dois casos de
alunos, seria bom que alguém mediasse a realização da atividade e que esta
ocorresse fora da sala de aula. Um garoto é o que me referi no início desta
narrativa e o outro da turma do período inverso. Achei que seria melhor que eu
mesma realizasse esta intervenção, pois já estão bem acostumados comigo, temos
um bom relacionamento e isso garantiria um processo mais tranquilo. Isso
porque, às vezes, quando optamos por esta estratégia, o profissional que conduz
a mediação acaba equivocando-se e impedindo que o estudante faça suas próprias
reflexões. Acaba ajudando mais que devia, se é que me entendem (rs).
Tudo contextualizado, vamos ao
que me levou a querer compartilhar esse fragmento do cotidiano:
Sai com o pequeno garoto da sala
de aula e fui com ele até a biblioteca, porque pretendia realizar a atividade
avaliativa naquele espaço. Ele correu para uma das estantes de livros e
capturou um exemplar. Antes que eu dissesse para ler em outro momento, já lia
as palavras da página colorida do livro que escolheu. Enquanto pedia para
guardar o livro e o ajudava, sua mão desocupada já capturava outro exemplar. Ri
e fui tomada pelo acontecimento. Por alguns segundos fiquei inerte. Mudamos de
sala para poder realizar a atividade que insistia em nos chamar.
Comentário
de Idelvandre:
Helô,
ao ler este fragmento, fiquei imaginando, e tive a sensação que para esta
criança a biblioteca era como um parque de diversão, onde cada livro
representava uma nova aventura, que o atraia, independente do que estava
proposto para ser realizado, pois a vontade incontrolada de ler era demonstrada
pela euforia dos sentidos, em uma relação prazerosa com a leitura. Quantos
alunos são assim? Talvez uns mais, outros menos? Ou alguns que não gostam de
ler? Outros têm relação de amor e ódio pela leitura? Acredito que o professor além de modelo,
também influencia os alunos na relação com a leitura, pois ele tem o poder de encantar ou
desencantar os alunos, dependendo da forma como encaminha a leitura, e as
possibilidades de leituras que oferecem aos alunos.
Continuando
a conversa – Helô 30/08/2013
Então,
acho que concordo com isso Idelvandre.
Tenho
pensado muito no ato da escrita e como esse ato de escrever precisa de
interlocução efetiva. Interlocução que dialogue com o autor. Na escola,
esquecemos de olhar para as produções de nossos alunos com o caráter de autoria
que elas merecem receber. Deu vontade de compartilhar outra situação com vocês:
Hoje,
acompanhei a escolha do
livro da biblioteca de classe onde as crianças escolhem um livro para
levar pra casa e ler no final de semana. Isso na Educação Infantil. Eram três turmas: 1 ano e meio a 2 anos e
meio, 2 anos e meio a 3 anos e meio, 4 anos e meio a 5 anos e meio.
Fiquei encantada com algumas situações:
1. Algumas crianças já sabiam o livro que queriam levar antes de iniciar o
processo de escolher e diziam
o nome das histórias, mesmo sem saber ler.
2. Algumas crianças ficavam
dizendo para o coleguinha escolher um livro ou outro para tirar a atenção desse
coleguinha do livro que desejavam levar.
3.
Algumas crianças
estavam levando o mesmo livro pela quarta ou quinta vez para casa.
4.
Todas as crianças
demonstravam alegria e encantamento com a escolha do livro.
5.
Várias crianças
depois de escolher o livro, começaram a folheá-los com olhos brilhantes.
6.
No portão uma mãe de
uma criança de 3 anos disse: escolheu livro de galinha de novo? Toda semana ele
leva livro de galinha. E riu.
Essas
cenas do cotidiano da escola me fizeram ficar pensando na resposta da pergunta
que a Renata nos faz. Afinal qual a relação entre compreensão e fluência
leitora? Se as crianças
pequenas não leem, como
conseguem produzir compreensão sobre a obra literária? Por se encantam tanto
com os livros? Como fazer para manter o encantamento?
Beijos
e até mais.
Continuando
a conversa – Idelvandre 30/08/2013
Bom,
eu sempre tive interesse em descobrir como as crianças muito pequenas aprendem,
por isso decidi trabalhar na Ed. Infantil, foi o que me deu base e segurança
para depois trabalhar com alunos de primeiro ano. Minha experiência na Educação
Infantil em sala de aula foi de três anos e um ano e meio na coordenação, já no
Ensino Fundamental (1º ao 5º ano) foram sete anos em sala de aula e agora estou
há três anos na coordenação, mas quero compartilhar uma experiência maravilhosa
de leitura e escrita na Educação Infantil.
Desde
o início do ano letivo lia diariamente para os meus alunos e conversávamos
sobre os diversos tipos de textos. Levava-os para escolher livro na Biblioteca
da Escola, para que eles lessem. Eles gostavam de ler mesmo antes de saber ler
convencionalmente, era o dia que eles mais gostavam, escolhiam o livro,
sentavam no tapete ou almofada para ler sozinhos ou com um amiguinho, era
interessante vê-los imitando o comportamento leitor, fazendo comentário,
mostrando, sorrindo, encantados e interagindo com o livro e com os colegas. Em
outro dia também escolhiam livros para serem lidos com a família no fim de
semana. Era uma festa! Também traziam livros que tinham em casa para que eu
lesse para a turma. Na roda da conversa sempre contavam sobre os livros que
tinham lido no fim de semana.
Todas
as vezes que lia para eles eu ficava feliz em vê-los tão deslumbrados com os
livros e com a participação ativa. No final do ano letivo participávamos de uma
Feira Literária, em que os livros eram confeccionados juntamente com os alunos,
e as histórias eram de autoria da turma, ou reescrita de contos. Eles produziam
textos maravilhosos (eu escrevia para eles), e todos participavam da feira
literária juntamente com a família.
Certa
vez levei a produção dos meus alunos da Educação Infantil para ler para os meus
alunos do Ensino fundamenta (4ª série), eles ficaram admirados como crianças de
quatro anos produziam textos tão bons.
Desse
modo fui me constituindo professora, refletindo sobre minha prática, e buscando
respostas para minhas perguntas, através de estudos, pesquisas e reflexões com
colegas, sobre nosso trabalho pedagógico. Saber como as crianças aprendem é de
fundamental importância para mediar durante o processo, decidindo como intervir
favorecendo avanços significativos. A busca por novos conhecimentos sempre me
motivou a melhorar minha prática pedagógica tendo em vista a aprendizagem de
todos os alunos.
A
partir desta experiência penso que a relação entre compreensão e fluência
leitora está no uso da linguagem oral, e nas interações possibilitadas por ela,
para se compreender a linguagem escrita, através de discussões e reflexões
possibilitadas pelo professo. Ao fazer uma leitura para os alunos, ou ler com os alunos, o professor ativa os
conhecimentos prévios, explicita os propósitos de leitura, utiliza as
estratégias de leitura antes, durante e depois, para que os alunos encontrem
sentido no texto, de forma compartilhada. Desse modo favorecendo a aprendizagem
do comportamento leitor, ampliando o repertório de leitura, favorecendo a
produção textual, de textos bem escritos, mesmo antes de saberem ler e escrever
convencionalmente, neste caso o professor como escriba textualiza as produções
dos alunos.
Espero
ter contribuído mais um pouco nesta conversa gostosa.
Beijos!
Idelvandre
Bom
eu vou de laranja. Rs
Desde
que recebi o registro de volta deixei ele guardadinho pois queria muito
continuar a conversa, mas cadê tempo? Então resolvi destacar algumas coisas no registro
que me chamaram atenção e que acho que pode contribuir nesse exercício de
reflexão.
A
pergunta disparadora é qual a relação entre compreensão e fluência leitora.
Diante desses trechos novas questões saltaram meu olhar e penso que a partir do
texto que a Itala nos envia e os que sugiro anexo poderíamos trazer alguns
autores para nossa conversa não ficar tão só entre nós e nossas certezas.
Assim
outras questões que se desdobram: O que é compreender um texto para mim? O que
é fluência leitora? Quando eu leio para o outro o que o faz se encantar,
envolver-se? E quando leio sozinho (aqui pensando nos maiores, que já
compreenderam o funcionamento do sistema de escrita) o que me aproxima e o que
me repele do texto?
A
outra questão é há diferentes práticas de leitura presentes na salas de aula e
que aqui foram citadas: aqui temos citada: roda de biblioteca ou roda
literária, ou roda de leitura (são muitos nomes), leitura pelo professor,
leitura compartilhada (com os alunos)...leitura pelo aluno ( criança a
folheá-lo com olhos brilhantes.)
Incluo
aqui um pequeno relato de uma experiência em que alunos maiores ( 5º ano/4º
ano) leem em voz alta para alunos menores (de 2º ano/1ºano) justamente para que
esses meninos que estão lá nos anos mais avançados reencontrem esse brilho nos
olhos ao ler e que foram perdendo ao longo de seu processo escolar. Ai junta o
pedaço da Del sobre professores como referência...
Essa experiência foi vivida recentemente em
algumas escolas estaduais aqui de Campinas e Americana.
Recupero
um registro dessa experiência na visão de uma professora e de uma aluna:
“...os
alunos passaram a ler com mais frequência na sala de aula, com maior
desenvoltura e disposição. A entonação melhorou muito, pois a responsabilidade
de mostrar para o 1º ano o prazer e a importância da leitura fez com que se
preocupassem em imitar a voz do personagem, ler mais alto, saber interpretar o
que foi lido. Prof.AP– 5º ano
“Eu gostei
muito de ler a história “ Chapeuzinho Amarelo”....
Primeiro eu
respirei, depois perguntei para ela se podia começar. Fiquei um pouco nervosa e
com vergonha.
No meio da
história, vi que a menina não estava prestando atenção e pensei que a história
estava chata. Mas depois em algumas partes engraçadas ela deu risada....” I.C –
5º ano.
Bem acho que descobrimos um outro caminho que é dialogar a partir
de/com/no registro de nosso encontro. Olha que potente!! Bjs RE
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